Naruto Shinden: Dia em Família - Capítulo 4
- Página Inicial
- Naruto Shinden: Dia em Família
- Capítulo 4 - Pai & Filha, chama fria e turbulenta
A Aldeia da Folha havia mudado extraordinariamente. No meio da multidão que ia e vinha pela rua, Sasuke Uchiha percebeu o quão difícil era de se lembrar de como tudo era antes — e era fácil saber o porquê. Os tempos mudaram. A cidade estava diferente. Ele esteve fora por muito tempo; a lista de motivos era longa.
Mas a realidade é, mesmo que ele tenha passado sua infância na Aldeia da Folha, ele já prestou a atenção ao seu redor na época? Quando pequeno, tudo o que ele fazia era olhar para as costas de seu irmão mais velho, Itachi Uchiha. Depois que seu irmão desertou da aldeia, tudo o que Sasuke olhava lembrava-o de seu irmão: a voz de seu irmão no parque, sua sombra através da água do lago, o rosto de seu irmão, pontos específicos na parede e o olhar de seu irmão.
Sasuke nunca prestou a atenção nas características da cidade, pois quando olhava, ele via Itachi — e era por isso que ele não se lembrava de com tudo era antes. E sem saber, aquela era a verdadeira intenção de Itachi. Sasuke esteve preso num sentimento chamado ódio, vingança. Não tinha como ele sentir nostalgia.
Espera. Sasuke de repente mudou o rumo de seus pensamentos. Ele sentiu algo familiar no ar: a fragrância de madeira fresca. Ele cheirou o ar novamente, e o aroma lembrou-o do cheiro da madeira que era usada nas casas dos Uchiha. Aquilo fez-o lembrar-se de quando seus pais ainda eram vivos.
Sua mãe na cozinha e seu pai na mesa de jantar — com os braços cruzados sobre a mesma e os olhos fechados. Ele lembrou-se até mesmo de si mesmo, sentado ao lado do pai, todo ansioso.
Acho que tenho lembranças nostálgicas, afinal de contas. O pensamento soava depreciativo para si mesmo. Ele não era o único que olhava para Itachi, pois seu pai também olhava para seu irmão. Naquela época, Sasuke estava desesperado para que seu pai olhasse-o.
Completamente preso naquela memória, sua infância, Sasuke abriu a boca para chamar a atenção de seu pai, “Pai… cadê nossa casa?”.
Cadê a casa? Sasuke levou um momento para se tocar do que tinha falado. Ele realmente tinha perguntado aquilo?
Não, ele respondeu imediatamente a si mesmo, Eu estou perguntando para mim, não para meu pai.
“Cadê a casa?”, Sasuke verbalizou seus pensamentos novamente, interrompendo seu devaneio nostálgico. Ele estava se dirigindo a sua casa, onde sua esposa e filha atualmente moravam em sua aldeia natal, mas por algum motivo, não havia nada a sua frente. Materiais para construção estavam empilhados em um canto do terreno — e ali estava a madeira que ele cheirara minutos atrás.
Mas nenhuma casa estava construída ali.
Sasuke puxou um pedaço de papel de seu bolso. Havia um endereço escrito ali na réplica a seu relatório de missão de uns anos atrás, junto de uma breve mensagem de que sua esposa, Sakura, havia construído uma casa. Ele verificou o endereço novamente, e sim, ele estava no lugar certo.
Mas não tinha mesmo nenhuma casa ali.
Enquanto ele considerava as causas da situação, ele chegou até a pensar que poderia ser genjutsu. Talvez era uma pegadinha boba, ou poderia ser um ataque — e ele não fazia ideia de quem poderia fazer tal ato também. Havia possibilidades demais. Com o passar dos anos, Sasuke conquistou uma gama de inimigos, e acima disso, uma número considerável de pessoal que queriam seu Rinnegan — esse era um dos motivos pelo qual ele não podia voltar para Konoha com frequência. Mas ninguém teria capacidade de se esconder em sua casa através de um genjutsu, ou teria?
Sasuke balançou a cabeça. Ele não precisava usar seu Sharingan para confirmar. Ele não sentia nenhum traço de genjutsu na área. Aquilo a sua frente era só um lote em construção.
Em outras palavras, não havia nenhuma casa mesmo.
Sem nenhuma razão particular, ele olhou para o céu e viu dois falcões voando ao redor. Ou era um casal, ou apenas pai e filho , completamente alheios aos problemas do mundo abaixo.
Foi então que uma voz o tirou de seu transe, “Papa?”.
Sasuke baixou o rosto, e viu que era sua filha, Sarada. Seus olhos pareciam um pouco maiores por trás dos óculos vermelho.
“É você”, ela gaguejou brevemente antes de sorrir abertamente para ele. Juntando ambas as mãos em seu peito, ela o encarou intensamente, “Você voltou. Quando?”.
“Eu estava por perto. Não faz muito tempo”.
“Entendi”, Sarada sorriu outra vez, olhando a sua volta — pessoas andavam pelo bairro, “Acho que faz muito tempo que você não vê tantas pessoas juntas assim. Você não está aborrecido, está?”.
Ele não estava particularmente irritado com a quantidade de pessoas ao seu redor, dado que não fazia tanto tempo da última vez que ele esteve em casa — graças ao incidente dos clones do Shin fingindo serem Uchiha. Mas a expectativa no rosto de Sarada em acertar seu palpite…
“U-hum”, Sasuke decidiu concordar.
“Eu sabia. E hoje é um dia especial, é um festival, então todo mundo está na rua”.
“Um festival?”.
“O Hokage-sama declarou que hoje seria um feriado em família”, a voz de Sarada tornou-se empolgada quando disse família, “Acho que está cheio de coisas legais para se competir com a família. Como tiro ao alvo com Shuriken ou Kunai. Acho que está tendo até mesmo uma competição de comida. Ei! Você quer ir para algum lugar? Apesar de eu não ligar muito para competição de comida”, ela sorriu abertamente, provavelmente integre ao clima do festival. Ou, o encontro inesperado com seu pai a deixara daquela maneira.
Ele não respondeu imediatamente, e acabou encarando o rosto radiante de sua filha. Finalmente, quando a expressão dela relaxou a um sorriso mais fraco, Sasuke apontou para o lugar vazio a sua frente.
“Na verdade…”, seu tom de voz parecia uma pergunta, “Onde está nossa casa?”.
“Quê?”, o sorriso dela transformou-se em uma careta. Ela olhou para o lote vazio e então para o rosto do pai, “Papa…Isso é alguma piada? Porquê não foi boa, sabe”.
Sasuke franziu o cenho, “Piada?”.
“Oh. Você está falando sério”, seu sorriso sumiu como se cordas que prendiam os cantos de sua boca tivessem sido cortadas, e seu rosto ficou sério, “Realmente, nossa casa era aqui. Mas a mamãe destruiu ela, então está em reconstrução. Estamos ficando num apartamento enquanto esperamos. E tipo, a gente ficou junto lá, como você se esqueceu disso?”.
Sasuke ficou sem palavras. No meio do silêncio, os falcões acima de sua cabeça rugiram e cada um voou para direções opostas, “Então… tem outro lugar?”.
Sarada suspirou, colocando uma mão em sua sobrancelha, impaciente, “Tanto faz. Vou te mostrar o caminho pro apartamento. Me siga”, sem esperar por uma resposta, ela virou-se de costas e seguiu seu caminho.
Sasuke olhou novamente para o lote vazio e então, seguiu sua filha.
“Então, basicamente, esse é o tanto de tempo que faz que você não está mais em casa”, ela destacou, “E você nunca diz onde esteve”.
Eles começaram a dirigir-se para outra rua do bairro, onde havia várias barracas de comida. Havia fachadas amarela, vermelha e verde, tudo era muito colorido para chamar a atenção. Havia balões com desenhos de bananas, maçãs e tomates também. Todo mundo parecia estar se divertindo muito — exceto sua filha. Ele podia sentir sua dessatisfação só olhando suas costas.
Ele não conseguia argumentar contra ela. Olhando para seus ombros desanimados e caídos, ele disse, “Quer que eu te compre doces?”.
“Não, obrigada”.
“Maçã do amor. São vermelhas, sabia?”.
“Por que está tentando me empurrar coisas vermelhas?”, ela perguntou com a voz irritada.
“Você não gosta de vermelho? Eu sempre pensei que fosse sua cor favorita”, Sasuke reparara na roupa que a filha usava, por isso havia assumido aquilo.
“Bem”, ela pausou para pensar, “Eu não odeio vermelho”.
“Então, que tal tomates? Tem uma barraca de tomates congelados ali—“.
“Eu odeio tomates”.
“Odeia?”, sem palavras, Sasuke ficou em silêncio. Ele achou que seria melhor caminharem em silêncio até sua casa, quando Sarada parou abruptamente.
“O que foi?”, ele perguntou.
“Você teria em estoque a Kuraa-ma?”.
Uma voz familiar surgiu da multidão.
Era Naruto.
“Ah, é? Tudo bem. Obrigado!”.
Ele virou o rosto e viu Naruto deixando uma loja de conveniência 24h. A garotinha que estava em suas costas era… sua filha? Ela estava radiante e gargalhava feliz. Naruto parou na loja ao lado da anterior, e aparentemente, não notou Sasuke ali. Ele fez a mesma pergunta sobre uma tal de Kuraa-ma e então, saiu e entrou em outra loja.
“O que esse perdedor está fazendo?”, Sasuke parecia exasperado, mas então, notou que Sarada olhava na mesma direção que ele, o momento entre pai e filha refletia nos óculos dela. Aquilo fez com que outro pensamento nostálgico surgisse em sua mente.
“Heh heh heh…”.
“Você ri mesmo tendo torcido o pé. Ei… está gostando de ficar nas minhas costas, né?”.
“Nem pensar!”.
Ele lembrou-se do dia que Itachi o carregou em suas costas, e também, de sua conversa.
“Itachi, você vai treinar comigo de novo?”.
“Claro… mas eu tenho uma missão amanhã, e você começará na Academia também amanhã. Então, provavelmente, não teremos mais tanto tempo juntos como tivemos até agora”.
“Tudo bem… portanto que a gente fique junto algumas vezes!”.
Ele dera uma risada graciosa na época. Naquele momento seus olhos estavam na mesma altura das de Itachi, e aquilo o deixava tremendamente feliz. Poder ver o mundo a mesma altura que seu irmão mais velho…
Sasuke sorriu levemente ao lembrar-se daquilo, e deu atenção a sua filha ao seu lado. Ela ainda encarava Naruto e Himawari com um olhar vago e distante.
“Quer ficar nas minhas costas também?”, ele tocou gentilmente em seus ombros.
“Huh? Quê?”.
Ele virou-se de costas para Sarada e se agachou. Ele finalmente conseguira entender os sentimentos da filha pela primeira vez naquele dia — ela sentira ciúmes do relacionamento de Naruto com Himawari. E naquele momento, não era um tomate congelado ou uma maçã do amor que ela queria — mas sim um passeio das costas do pai.
No entanto…
…ele não sentiu ninguém subir em suas costas. Ele virou o rosto, e encontrou com os olhos de Sarada.
Ela o encarava com olhos frios, e então, sem dizer uma palavra, deu a volta por ele continuou seguindo sua rota.
Enquanto desaparecia pela multidão, Sasuke levantou-se — lentamente — inclinando a cabeça ligeiramente para o lado — confuso.
____________________
O caminho que ele costumava pegar quando criança agora tornara-se um largo rio — onde os lados se encontravam através de uma ponte. Ou talvez ali sempre teve um rio, e ele só estava confundindo a rota — como ele esquecera completamente de como chegar até sua casa.
Sasuke encarou o monumento do Hokage e olhou para os grandes edifícios acima. Não havia motivo para ele ir atrás de sua filha. Ele achava que provavelmente acharia o apartamento se seguisse na direção daqueles prédios. E se ele seguisse essa linha de pensamento, ele uma hora ou outra lembraria-se do caminho que ele sempre costumava fazer até sua casa — mas esse pensamento demorou a surgir em sua mente. Sasuke simplesmente selecionou uma rua bem distante da movimentação da cidade para seguir em frente — só isso.
Ele começou a cruzar a ponte. Sua inclinação era íngreme, fazendo com que a caminhada sobre a mesma parecesse mais uma escalada do que somente um cruzamento. Ele semicerrou os olhos quando o outro lado da ponte ficou visível como uma linha de uma crista de montanha.
Um homem estava escorado sobre uma das laterais da ponte. Sasuke considerou a possibilidade do homem ter passado mal na travessia e resolveu descansar um pouco. Mas aquele não era o caso. O homem estava agachado, como se aguardasse alguém subir em suas costas.
Sasuke ignorou o homem e manteve distância do mesmo enquanto seguia em frente — a mesma coisa que sua filha fizera com ele minutos atrás. Ele iria continuar, mas uma voz chamou sua atenção.
“Hora vejam só”, o homem levantou-se, um traço divertido em sua voz, “Acho que você deveria aceitar a gentileza das pessoas”.
Sasuke fuzilou o homem com o olhar, e respondeu de volta, “E que tipo de gentileza é essa, exatamente?”.
“Olha só, este velho aqui está tentando te dar uma carona de cavalinho, ok? Só aproveitando minha saúde mesmo nessa idade. De onde mais isso viria senão de um lugar de pura bondade?”.
Aquele a sua frente era o sexto Hokage, Kakashi Hatake.
Fazia tempo que Sasuke não o via, mas mesmo assim, ele não havia mudado muita coisa. A única diferença gritante era que ele não mais escondia seu olho esquerdo com sua bandana ninja. Seu cabelo branco arrepiado e seu olhar desinteressado continuava o mesmo de anos.
“Se você tivesse subido nas minhas costas, eu teria corrido o mais rápido que pudesse. Uma visão e tanto! Dois velhos brincando de cavalinho. Bizarro e amedrontador”, Kakashi disse sarcasticamente.
Sasuke continuou o encarando, “O que faz aqui?”.
“Eu? Bom, eu só tava assistindo você mesmo”, seu ex-sensei riu com gosto, “Prestava a atenção em um pai bem triste que fora completamente ignorado pela filha quando ele tentava brincar de cavalinho com ela. Então eu vim aqui só para te provocar mesmo — não, eu to brincando! Não precisa me olhar assim!!”.
“Hmph”, Sasuke bufou com desprezo.
Kakashi suspirou baixo, “É a primeira vez que você me vê por um longo tempo e nem mesmo se presta em me dizer um ‘olá’? Sério? Podíamos nos gabar aqui sobre nossa saúde”, ele balançava o dedo indicador para cima, como se procura-se pelas palavras certas a dizer, “Tipo, a gente fazer um ‘toca aqui!’, algo do tipo”.
“Não, obrigado”, Sasuke começou a seguir em frente novamente, ignorando completamente a mão erguida de Kakashi para o cumprimento. Kakashi então colocou essa mesmo mão no ombro do ex-aluno, forçando Sasuke a virar-se para ele novamente, “O quê? Fala logo o que quer”.
“Espere um minuto. Caramba, você é duro mesmo. Talvez seja porquê sempre viaja sozinho, aí suas habilidades sociais não são praticadas. Você conversa com as pessoas?”.
“Eu converso”.
“Com quem?”, Kakashi ergueu uma sobrancelha — completamente duvidoso.
Sasuke o encarou em silêncio, sem expressão alguma no rosto. Após um momento de reflexão, a resposta finalmente veio, “Com Aoda”.
“Aoda é uma cobra”, Kakashi destacou, “Não sabia que eu teria que especificar pessoas”.
“Acho que o neto dele tem ficado bem comprido ultimamente. Ele fala sobre isso com muito orgulho”, Sasuke disse.
“Aham, entendi…”, Kakashi revirou os olhos e resolveu voltar ao assunto anterior, “Não é a toa que as coisas com sua filha não andam bem”.
Sasuke se encolheu, uma única linha aparecendo em sua glabela, “O que quer dizer?”.
“Exatamente o que eu disse. Eu estava parado a uma certa distância, e mesmo estando longe, pude sentir toda a estranheza do ar”.
“Isso é coisa da sua cabeça. Sarada e eu nos damos muito bem”.
“Tão bem que você tentou ganhar ela com doces”, Kakashi parecia ter assistido realmente tudo.
Sasuke fez um estalo com a língua como resposta.
“Bom, você não é o pior pai do mundo, mas também não está na lista do melhor pai do mundo. Você pode conversar comigo se quiser, que tal?”.
“Não é da sua conta”, Sasuke respondeu acidamente.
“Não seja assim”, Kakashi sorriu por de baixo da máscara, “Oh, se sua preocupação for em me causar problemas, não se preocupe, eu já sou um Hokage aposentado. E se for meu tempo sua preocupação, eu tenho de sobra”.
“Você não está preocupado com nada”, Sasuke disse, “Você só está entediado”.
“Ahh, então você já me entendeu!”, Kakashi não parecia nem um pouco envergonhado de assumir.
Antes que Sasuke pudesse pensar se aquilo seria uma boa ideia ou não, Kakashi já estava apontado um dedo em sua direção.
“Se pararmos para pensar na situação, vamos focar em lembrar de coisas. Não houve muitas pessoas com quem você poderia ter conversado sobre isso, ou te ensinado alguma coisa”.
“Acho que sim. Basicamente, eu só tinha ao Itachi… e agora tenho o perdedor”, ele respondeu.
“Ah é? Ah, sim”, Kakashi disse, “Creio que—“.
“Meu pai me ensinou o Estilo Fogo”.
“Certo, certo. E—“.
“E tem o Orochimaru, acho”.
“Ele?”.
“Acho que posso dizer que eu acabei forçando-o a me ensinar alguma coisa do que ele ter feito algo por livre e espontânea vontade”.
“Mas e o Chidori? Ei!”, Kakashi citou, esperançoso, “Talvez você esteja lembrando-se do Chidori agora, né?”.
“Você não é solteiro? Duvido que você tenha um bom conselho para me dar”.
Por Sasuke nem ter se importado com o lance do Chidori, os olhos semicerrados de Kakashi se estreitaram ainda mais. Recompondo-se, Kakashi voltou a falar, “Entendi. Bom, eu não tenho filhos, então provavelmente eu não vou entender se você me dizer o quão difícil é ser pai… Mas eu tenho minha carta na manga mesmo assim”, ele estufou o peito e tirou um livro do bolso.
“Isso é…”, quantas vezes ele vai reler esse negócio?!
As partes expostas à luz estavam desbotadas, cobertas por manchas escuras em forma de dedo — delineando talvez uma palma — como uma marca registrada das vezes que Kakashi sempre segurou o livro aberto com uma mão. Para um estranho, parecia a imagem de um livro dos tempos mais antigos.
“Táticas dos Amassos”.
“Esse livro é valiosíssimo”, a voz de Kakashi tornou-se mais robusta, como se tivesse se ofendido com a voz desinteressada de Sasuke ao revelar o nome do livro, “É um verdadeiro manual para a vida, para ser honesto”, ele continuou animado.
Em contraste com seu ânimo, Sasuke estava completamente entediado, “Ridículo”.
“Não é ridículo!”, Kakashi aumentou seu tom de voz, mostrando não estar nada contente em ser contrariado com uma única palavra, “Quer se aproximar da sua filha, não quer? É isso, não? Esse tipo de coisa se chama ‘tática’”.
“Esse tipo de coisa?”.
“Esse tipo de coisa. Quero dizer que eu vou impactar sua vida ao te revelar os segredos das ‘táticas’. Agora, me escute bem. Primeiro…”.
____________________
Sasuke despediu-se de Kakashi e retornou para a rua onde estava cheia de barracas de comida. Ele percorreu a área com os olhos, achando dificultoso procurar um rosto em particular no meio da multidão — mas conseguiu achá-la com sucesso.
Uma garota usando trajes vermelho surgiu pela multidão.
Era Sarada.
“Ah, aí está você!”, os óculos dela estavam um pouco tortos, talvez por ter trombado em alguém pela multidão. Enquanto ajeitava-os, ela se aproximava dele com um rosto completamente infeliz, “Francamente, qual é. Não desapareça assim! Você não é criança”.
Com as mãos na cintura, ela soltou um suspiro em seguida, “Bem… na verdade a culpa é minha por ter saído andando sem dizer nada”.
Quando Sasuke não demonstrou nenhuma reação, Sarada arqueou uma sobrancelha, “Papai?”.
Ele não respondeu. Enquanto encarava bem os olhos da filha, Sasuke só conseguia se lembrar do que Kakashi havia lhe dito anteriormente.
“Para se aproximar dela, você precisa pensar em algo para chamá-la. Sabe quando você dá apelidos para alguém? Você precisa dar um para ela. Bom, ‘brô’ é ideal para alguém próximo a um irmão. Tem que ser amigável. Você já deu um apelido para alguém? Tipo, para a Sakura? Não, né…? Bem, você não precisa quebrar a cabeça para pensar em algo, basta dar algum apelido fofo. Você deve chamá-la de algo bem fofo logo de cara se é isso que você pretende fazer. Tipo, você chama o Naruto de ‘perdedor’, não? Acho bem amigável e íntimo… ei, por que está me olhando assim? De qualquer forma, tente chamar sua filha de…”.
“Amendoim”, Sasuke disse abruptamente.
Sarada olhou-o completamente confusa, “Huh?”.
Sasuke continuava focado em sua ação, “Você é meu amendoim fofinho”.
“Que monólogo é esse?”, Sarada arqueou uma sobrancelha para ele.
Kakashi havia lido uma frase em voz alta da fala de um personagem do livro ‘Táticas dos Amassos’ (enquanto o rosto de Sasuke ficava completamente vermelho) e dito para ele repetir a frase, mas é claro, Sarada não fazia a mínima ideia daquilo.
“Eu não sou um legume”, ela resmungou.
Kakashi havia lido somente uma parte da conversa do casal, então naturalmente, não tinha como prosseguir com a conversa programada.
No momento que ele percebeu que o apelido era inútil, ele logo retirou a palavra ‘amendoim’ do vocabulário. Xingando mentalmente o tempo que ele havia perdido, ele pulou para a próxima etapa da estratégia de Kakashi.
“E bem…”, antes confusa, agora Sarada estava com o rosto rígido, “‘Amendoim’? Papai, você não disse meu nome uma única vez desde que chegou hoje. Esqueceu-se de mais alguma coisa além de onde você mora? Você realmente se esqueceu do nome da sua única filha?”, seu tom de voz parecia divertido, mas seus olhos diziam o contrário.
“Do que está falando?”, Sasuke estava com o rosto sério ao responder, “É Sarada”.
“Uhm. Então você se lembra. Por hora”, ela acrescentou, virando-se de costas para o pai.
Sasuke imediatamente pegou a capa que usava, e recobriu o corpo da filha com o tecido.
“Quê?”, ela o encarou confusa, “Eu não estou com frio”.
“Só vista”.
Sarada franziu o cenho, aparentemente não entendendo o gesto.
Aquilo era outra tática que Kakashi havia retirado do livro ‘Táticas dos Amassos’: uma garota sempre fica toda toda quando um homem coloca uma jaqueta sobre seus ombros.
No entanto…
“Olha só, que fofa!”.
Ele ouviu umas risadas de algum canto da rua, enquanto Sarada erguia os ombros.
“Não é? Acho que ela queria vestir quando viu o pai com a capa”.
“Mas só o tamanho que é demais para ela… né?”.
Ouvindo os cochichos de quem passava por eles, Sasuke olhou para sua filha, enquanto ela também olhava para si mesma. O comprimento da capa, a largura do ombro; aquela capa fora feita para o porte físico de Sasuke, não combinava com o tamanho de Sarada, fazendo-a parecer até mesmo patética.
Sem dizer uma palavra, Sarada removeu a capa e a entregou para o pai. Ele pegou a capa sem reclamar.
Com apenas um passo, ela se misturou com a multidão na rua. Mas antes dela desaparecer entre as pessoas, ela olhou para o pai pelos ombros, “Papai, hoje você está muito…”, enquanto falava, ela levantou o olhar para encará-lo, e soltou “Irritante”.
____________________
“Irritante, huh?”, Kakashi riu, completamente extasiado.
Sasuke, determinado em ignorá-lo, fingia não ouvir seu ex-sensei se divertindo a suas custas, enquanto ele estava escorado no vão da ponte, encarando a água do lago.
Depois de Sarada tê-lo rejeitado, ele sentiu que não deveria segui-la, então retornou para a mesma ponte onde Kakashi estava anteriormente. E lá estava seu ex-sensei o esperando, com um sorriso enorme no rosto.
“Ahh, crianças. Não importa o quão ruim seja, ela ainda é sua filha. Família é assim”, Kakashi encostou-se também no vão da ponte, colocando o rosto bem na frente de Sasuke, dificultando o Uchiha a ignorá-lo.
“Esse livro”, Sasuke suspirou e encarou-o pelo canto dos olhos, “Tática de não sei o quê. Ainda o tem?”.
“Nãooooo—e é Táticas dos Amassos. É claro que ainda o tenho. Por quê? Você possivelmente… percebeu a maravilha que é a Táticas dos Amassos?”, Kakashi perguntou, sorrindo demais por detrás da máscara, excitado em saber que logo teria um companheiro com quem conversar sobre o livro.
A resposta de Sasuke veio de imediato, “Me dá. Vou jogá-lo no lago”.
“Credo”, Tristemente, Kakashi colocou o livro novamente em seu bolso, “Bem, esse livro foi escrito antes de sua filha nascer. Talvez esteja fora de seu tempo. Funcionaria muito bem em uma pessoa mais velha. Creio eu”, ele suspirou, decepcionado, “Se as táticas do meu livro favorito não funciona, creio que é o fim da linha para mim. Não consigo pensar em mais nada que possa ajudá-lo. Eu estou velho também”.
“Talvez não seja o livro que eu tenha que jogar no lago, Kakashi”, Sasuke disse, “É você”.
“Acalma ai! Você precisa respirar fundo, viu. Que tal pularmos juntos? Talvez a gente até pense em um plano melhor quando sairmos da água”, mesmo com a proposta, Kakashi não tinha nenhuma intenção de se molhar. Fechando os olhos, ele respirou profundamente, “Bom, podemos pensar mais sobre o assunto, mas um cara velho como eu não entende direito sobre os sentimentos de uma garota. Talvez seja mais simples perguntar para alguém que também tenha uma filha, que tal? Tipo o Naruto”.
Todo seu falatório parecia mais uma declaração de derrota.
“Sem chance”, Sasuke negou com a cabeça, “Ele parece bem ocupado”.
“Hmmm”, Kakashi acenou com a cabeça pensativo, “Verdade, Naruto ultimamente anda pegando muito pesado. Por causa do crescimento de Konoha, há mais pessoas vivendo na aldeia. Então faz mais sentido que o fardo em ser Hokage esteja sendo mais cansativo para ele do que como foi para mim—“.
“Não é isso que eu quis dizer”, Sasuke apontou o dedo para o outro lado, onde estava a rua cheia de barracas de comida, “Eu o vi com sua filha andando pela rua”.
“Naruto?”, Kakashi abriu bem os olhos, aparentemente pego de surpresa com a informação.
“Uhum. Ele estava procurando pela Nove Caudas. Será possível que ele perdeu a bijuu dele?”.
“Ele estaria num problemão se tivesse”.
“Então está tudo bem”, ambos pareciam confusos com aquela informação, “Bom, se ele está bem, não há nenhum problema então”.
“Se você não pode falar com Naruto…”, Kakashi colocou a mão no queixo, “Alguém mais que tem uma filha… Kurenai? Não”, Kakashi segurou as palavras que falaria e tossiu, “Há outra pessoa com quem você pode conversar”.
Kakashi então olhou para o outro lado da ponte. Sasuke seguiu seu olhar e reparou que um pai e uma filha estavam subindo pela ponte em direção a eles. O homem era alto e magro, com marcas redondas em suas bochechas. Sasuke sentia que já havia visto ele antes, mas ele não conseguia se lembrar direito. Mas ele se lembrava muito bem da garota com os cabelos presos em dois rabos de cavalo — de pele morena e cabelos alaranjados. Ela estava junto de Sarada no dia que ele se encontraria com Naruto na Passagem Shikoro.
“Achei que estava sentindo cheiro de batatinhas, mas não era só impressão”, Kakashi cochichou no ouvido de Sasuke enquanto esperavam o par chegar até eles. E de fato, ambos — pai e filha — comiam batatinhas. E eles nem estavam compartilhando o mesmo pacote, cada um tinha o seu saco de batatinhas.
“Oh, Hokage-sama”, o pai exclamou, finalmente notando os homens a sua frente.
“E o pai da Sarada!”, a filha acrescentou.
“Ei!”, Kakashi levantou uma mão em cumprimento, “Imagino que estejam curtindo o feriado do Dia em Família. Perdão, mas posso pegar um?”.
“Hum? Oh, é claro! Pode sim”, o pai esticou o saco na direção de Kakashi.
Onde exatamente eu já o vi antes? Sasuke continuava a vasculhar em sua memória, buscando pelo nome do homem. Era algo bem irritante, mas…
“Eu me lembro!”, ele finalmente lembrara do nome do homem a sua frente, “Choji Akimichi. Eu não percebi que era você. Você emagreceu bastante. Você costumava ser muito gor—“.
Gordo, ele ia dizer, mas Kakashi colocou uma batatinha em sua boca, impedindo-o de finalizar a sentença.
O que significa isso? Sasuke perguntou com o olhar.
Se toca, Kakashi respondeu também com o olhar.
Sasuke queria argumentar, mas a batata em sua boca estava no caminho. Ele iria parecer patético se continuasse com ela na boca, então logo a mastigou e engoliu.
O rosto de Choji estava confuso com toda a cena a sua frente.
“Ha ha ha ha!”, Kakashi fingiu uma risada para mudar de assunto, “Então, o negócio é o seguinte. Esse cara aqui quer se aproximar da filha, então estávamos aqui pensando em como fazer isso. Mas não conseguimos mais pensar em nada. E aí vocês dois surgiram no momento em que estávamos conversando sobre ele pedir conselho para uma mãe ou pai que tenha uma filha da mesma idade”.
Choji piscou várias vezes até entender do que se tratava, “Entendo. Se você quer falar sobre como se aproximar da sua filha—“.
“Vocês não podem simplesmente comer batatinhas juntos?”, a filha de Choji o cortou, comendo outra batatinha em seguida.
“Aham”, Choji disse, olhando para sua filha, “Não precisa ser batatinhas. Talvez vocês possam comer qualquer coisa gostosa juntos”, ele colocou uma quantidade grande de batatinhas na boca enquanto trocava um olhar cúmplice com a filha. A alegria em seus rostos era idêntica.
Kakashi sorriu também enquanto acenava em resposta, mas seu rosto tornou-se sério quando virou-se para Sasuke, “Ouviu bem?”.
Sasuke encolheu os ombros. Mesmo eles falando para ele ir comer algo gostoso, ele não fazia a mínima ideia do que Sarada gostava. Tudo o que ele sabia era que ela odiava tomates.
“Se é sobre Sarada que estamos falando”, Choji disse, comendo batatinhas a cada palavra proferida, “Acho que há uma pessoa ainda melhor para você pedir por conselhos”.
Sasuke franziu o cenho completamente confuso — trocando olhares com Kakashi.
____________________
Choji havia lhe dito onde ir. E lá estava Sasuke, de frente com uma porta fechada, seu dedo pressionando a campainha.
Ele ouviu o som da campainha soar pelo apartamento, seguido de uma voz dizendo: já vou indo!
A porta enfim se abriu vagamente, e uma mulher apareceu.
“Ohh…”, a boca dela se abriu em um ‘o’ enquanto olhava para Sasuke, a porta ainda semi aberta. Mas antes de qualquer coisa, ela abriu a porta de vez — o suficiente para o suporte segurar a porta aberta. Porém, a mão dela continuava na maçaneta, enquanto encarava a figura de Sasuke. Depois de alguns segundos, ela largou a maçaneta da porta e se afastou um pouco da entrada, para dar espaço para ele entrar.
“Bem vindo de volta, querido”, Sakura disse enquanto juntava as mãos por trás. Uma pequena brisa atravessou seus cabelos róseos.
“Estou em casa”, Sasuke disse após um longo momento. Ele finalmente conseguira achar o caminho de casa.
“Sarada me disse que estava em Konoha. Mas como você não veio para casa… fiquei um pouco preocupada”, a voz de Sakura parecia tensa enquanto entrava para dentro de casa.
“Algumas coisas aconteceram”, ele disse, incapaz de acrescentar que havia se esquecido onde eles moravam, “Sarada já retornou?”.
“Ela voltou e ficou pouco, logo saiu de novo. Ela parecia irritada com algo. E eu achando que finalmente poderíamos jantar juntos após um longo tempo”.
“Entendo”.
Sakura foi em direção a cozinha, mas Sasuke ficou parado na sala de estar, focado em uma cômoda. Ele olhava para três fotografias; uma de sua esposa e filha juntas; uma dele criança com o Time 7; e uma dele junto de sua esposa e filha.
O fotógrafo na época havia lhe pedido para sorrir mais, mas fazia muito tempo desde que ele havia tirado uma foto, “Ei, pai, você pode sorrir mais?”, “Sorria mais!”, “Isso mesmo… mais natural…”, “Você tem algum problema na musculatura da face?”.
“Perdido nas memórias?”, Sakura retornou segurando uma bandeja com xícaras de chá. Pelo tom de voz dela, parecia que ela havia entendido errado — que ele estava olhando para a foto deles quando ainda Genin.
“Não. Eu estava só olhando pro nada”, ele aceitou a xícara de chá e ao dar um gole, notou que Sakura ainda o encarava intensamente.
“O que foi?”.
“Seu cabelo cresceu bastante”.
Ele olhou para dentro da xícara para ver seu reflexo no líquido, comparando-o com sua versão da foto. O cabelo dele realmente havia crescido desde o dia que ele tirara a foto em família.
“Que tal eu cortar para você?”, ela propôs.
“Oh—“, ele iria recusar, mas desistiu, “Acho bom. Você pode?”.
“Claro. Espera um minuto. Vou pegar a tesoura”.
Ele viu a esposa desaparecer pelo corredor, murmurando sozinha alguma coisa, e então ele voltou sua atenção para as fotografias. A expressão no rosto de Sarada era feliz.
“Papai, hoje você está… irritante”.
Seu semblante ao dizer aquela frase não era igual ao da foto a sua frente. Seu semblante quando ela havia lhe dito aquilo era de desgosto.
“Sente-se”.
Quando ele se virou, ele viu que uma cadeira fora colocada no centro da sala de estar junto de uma capa de cabeleireiro.
“Ok”, Sasuke retirou sua capa, dobrou-a, e a colocou próximo das fotos. Uma capa de cabeleireiro envolveu seu pescoço, deixando-o exatamente igual como ele estava antes.
“Você quer grande o suficiente na frente para esconder seu olho esquerdo, né?”, Sakura começou a murmurar sozinha enquanto brincava com o cabelo dele, “Está chateado com Sarada? É isso?”.
Sasuke estreitou os olhos com a pergunta repentina, “Kakashi por acaso lhe disse algo?”.
“Não, eu consigo dizer isso sem ninguém me dizer. Somos casados”, Sakura disse, com a voz baixa.
Ele estava prestes a argumentar, olhando através de seu ombro, mas ela direcionou a cabeça dele para frente de novo, “Não se mova”, ele ouviu um som fino do corte da tesoura próxima de sua orelha, e sentiu seus cabelos cairem pela capa.
“Eu não estou chateado”, ele disse, olhando para frente, já que ela não havia lhe dado opção.
“Ah, é?”.
Sasuke franziu os lábios. Ele pensou muito no que dizer, mas não conseguia pensar em nada, então permaneceu em silêncio.
“Viu?”, Sakura sorriu, vitoriosa, “Você está chateado, não?”.
“Não estou chateado—“.
“Aham. Não se mova”.
Agora ele ouvira o som da tesoura do lado de seu outro ouvido.
Sasuke desistiu de falar mais alguma coisa.
“Seria tão mais simples se eu dissesse que ela está passando somente pela fase da rebeldia adolescente”, Sakura dizia enquanto juntava mechas de seu cabelo para cortar, “Mas acho que aquela garota realmente adora o pai que tem. E como ela não o vê com frequência, ela cria certas expectativas sobre você. Ela acha que você é um dos pais mais legais que existe, e também o mais forte de todos. Alias, eu realmente acho isso também!”.
Ela riu, um pouco envergonhada em quão boba apaixonada poderia estar soando.
“Quando ela vê algo menos do que perfeito em você, ela acaba desiludida. Não há muito o que fazer, honestamente. Você dá a ela algo a se pensar”, ela retirou delicadamente os cabelos cortados de seus ombros, “Sarada ainda não faz a mínima ideia de como você é. Acho que você só precisa ser normal com ela, nada de ser todo duro e composto. Especificadamente, o que você deve fazer… bom, eu também não sei dizer”.
A mão de Sakura que limpava o ombro de Sasuke parou de repente, “Talvez ela não quer de você o mesmo que uma vez você quis do seu pai?”.
____________________
Sarada arremessou uma shuriken no centro do alvo que estava flutuando sobre o rio. Um pouco distante de onde estava o alvo, o rio terminava em um penhasco. A força da água que caia abaixo era forte e violenta, suficiente para esmagar rochas. Uma névoa branca subia pela cachoeira formada.
Flutuando no meio do rio, o alvo possuía um círculo duplo. Ela jogara um tronco de árvore com o alvo desenhado, e o deixou amarrado a uma árvore próxima. Era impossível prever o movimento de tal alvo, tornando-o ideal para o treinamento de shurikens.
Preparando suas armas, ela lançou novamente.
—Shff!
Mas a shuriken passou longe demais do alvo, atingindo uma árvore a sua frente.
“Ah, vamos lá!”, Sarada gritou irritada. Várias shurikens já estavam cravadas em várias árvores a sua frente, “Por que eu não consigo fazer isso?”.
Mas ela sabia muito bem o motivo. Respirando fundo para se acalmar, ela se preparou novamente.
“Ok”.
Ela lançou outra shuriken. Dessa vez, atingiria o centro do alvo. Sarada prendeu a respiração.
No entanto.
—Klang!
Antes que sua shuriken atingisse o centro do alvo, outra shuriken a retirou de sua rota.
Sarada mudou de posição, estando pronta para enfrentar quem quer que fosse o intruso. Mas no momento que virou-se e viu de quem se tratava, ela logo desfez a posição na defensiva, o rosto desgostoso.
“O que foi? Você pode não me atrapalhar, por favor?”.
A pessoa que havia atrapalhado a rota de sua shuriken fora Sasuke. Ele havia surgido pela floresta, silenciosamente se aproximando por de trás dela.
Ela o encarou com desconfiança, mas logo resolveu ignorá-lo, e voltou a focar no alvo no centro do rio. Ela arremessou outra shuriken.
—Klang!
Mais uma vez, a shuriken de Sasuke impediu a rota da shuriken dela antes que atingisse o centro do alvo.
“Ei!!”, ela gritou.
Encarando-a por rabo de olho, Sasuke arremessou uma shuriken no alvo a sua frente.
“Ahh!”, Sarada notou seu movimento e logo lançou outra shuriken.
—Kaking!
Dessa vez, fora a shuriken dela que impediu a rota da shuriken do pai de acertar o alvo.
“Isso!”, ela comemorou, triunfante, como se tivesse até mesmo atingido o centro do alvo. Mas quando percebeu que Sasuke a olhava, ela virou-se de costas para ele, escondendo o rosto.
Ele não conseguiu deixar que uma fraca risada escapasse, “Sakura me disse”, ele murmurou, preparando outra shuriken, “Que você quer ser uma Hokage”.
Sasuke achava que fosse a visão de pai e filha juntos que havia capturado o olhar cortejador de Sarada quando ele viu Naruto e sua filha na rua das barracas de comida. Mas ele havia entendido tudo errado. Sarada não olhava Naruto como pai, ela olhava Naruto como Hokage,
“O que vai fazer? Rir da minha cara e dizer que é um sonho bobo?”.
“Nah”, Sasuke negou com a cabeça, “Eu também já quis ser Hokage”.
“Sério?”, Sarada paralisou em surpresa, então Sasuke aproveitou-se para lançar outra shuriken.
Recompondo-se rapidamente, Sarada lançou sua shuriken em seguida. As duas armas cruzarem-se no meio do caminho, e uma cancelou a rota da outra, caindo sobre o rio.
“É a primeira vez que escuto isso”.
“Somente algumas pessoas sabem. Eu queria anunciar de maneira formal, mas nunca era o tempo ou lugar certo”, e nem a ideologia ideal.
Antes que ele pudesse lhe dizer essa parte, Sarada lançou outra shuriken. Ela ainda estava tentando atingir o alvo.
—Skreeeenk!
Mais uma vez, duas shuriken desapareceram pelo rio.
Tch!, Sarada estalou a língua.
Sasuke estreitou os olhos e levantou o canto da boca levemente. Mas só um pouquinho. Ele pretendia sorrir, mas talvez não era isso que Sarada estava vendo. Ela parecia irritada ainda.
Mas isso durou somente um instante.
Sarada gargalhou em seguida, uma risada satisfeita, e então ergueu uma mão. Entre seus dedos, havia três shuriken. No instante seguinte, ela arremessou as três simultaneamente. Todas iam em direção ao alvo.
—Kanlg! Krk! Skreeenk!
“O quê?”.
Todas as três shuriken foram interceptadas por uma única shuriken de Sasuke.
Ela o encarou estupefata.
Sasuke olhou para sua filha, “Hmph”, mas dessa vez, a risada nasal saiu com espontaneidade, completamente diferente de quando ele tentou sorrir com os lábios, segundos atrás.
Aquela era a hora certa.
Sarada então fechou os olhos com força. E quantos abriu, eles estavam vermelhos — mostrando o Sharingan herdado de seu pai.
“Se é uma competição que você quer…”, ela cruzou os braços a sua frente. Ele não sabia da onde ela havia tirado tudo aquilo, mas suas mãos estavam cheias de shuriken, “Manda ver!!”.
Balançando os braços como se pegasse armas do chão, Sarada arremessou sua primeira shuriken no alvo. Ela balançou os braços novamente, e lançou uma segunda, e uma terceira — e assim sucessivamente.
Sasuke casualmente impedia a rota de todas as shuriken arremessadas — todas caindo no rio.
“O Hokage que uma vez eu quis ser”, ele disse, o som de metal contra metal ecoando pela floresta, “era distorcida”.
“Quieto! Você está me distraindo!”, Sarada resmungou, suas mãos em constante movimento.
Mas Sasuke continuou, “Eu tinha um amigo, e ele me disse que eu tinha uma visão distorcida de tudo. Ele não desistiu e me mostrou o caminho certo”.
“Do que você está falando? Está tentando dizer que já foi mal no passado? Ou sobre sua amizade?”.
“Ele não é do tipo de amigo que você se gaba. Ele é só um perdedor que nunca desistiu do caminho que planejou para si mesmo”.
“Eu nem consigo entender o que você está tentando me dizer!”.
“Se você quiser seguir o caminho dele”, Sasuke disse, “Você não irá seguir o caminho errado como uma vez eu fiz. Eu tenho certeza de que você será uma excelente Hokage”.
“O quê?”, Sarada estava sem palavras.
“Estou na torcida por você. Não desista”.
Sarada gaguejou, sua boca em um ‘o’, talvez incapaz de acreditar daquele encorajamento verdadeiro.
E então, sua última shuriken lançada foi em uma direção não planejada, cortando a corda que segurava o alvo no rio. No mesmo segundo, o tronco de árvore foi levado pela correnteza da água e estava indo em direção ao penhasco que dava origem a cachoeira.
“Ah!”, ela murmurou tristemente, e deixou sua mão que carregava mais uma shuriken baixar-se.
“Vai desistir?”, Sasuke perguntou, e sua mão congelou no lugar.
Ela então virou o rosto para encará-lo nos olhos, e então, sorriu orgulhosa, “Não fale coisas estúpidas”, ela mirou o alvo que se aproximava cada vez mais do final do rio e arremessou a shuriken.
No momento que seu Sharingan captou o começo do penhasco, ela viu o alvo ser arremessado pela força da correnteza para o ar, e ela não conseguia não analisar toda a trajetória.
A shuriken que ela arremessou avançou em direção ao alvo com uma trajetória um pouco curvada. Mas o tronco estava caindo mais rápido do que sua arma se movia, e ela errou por pouco. Sarada mordeu o lábio em frustração.
— Shf!
Sasuke lançou uma shuriken em seguida logo atrás dela. Com uma velocidade inacreditável, a arma seguiu a shuriken antes arremessada por Sarada, e ambas chocaram-se.
—Shhkonk!
Eles ouviram o barulho de um tronco sendo atingido.
Sarada ficou sem reação, mas logo recuperou-se. Ela correu até a beira do penhasco, Sasuke a seguiu, ficando lado a lado. Ambos encarando o tronco abaixo deles, ao lado do final da cachoeira.
Bem distante deles, lá estava a shuriken fincada no meio do alvo desenhado no tronco — flutuando pela água.
“Papai, isso foi demais!”, ela disse completamente maravilhada, esquecendo-se completamente de sua irritação anterior.
“Não foi eu, foi sua shuriken”, ele retrucou, e Sarada franziu o cenho. Mas logo em seguida, um sorriso enorme dominou seu rosto e a tensão de seus ombros já tinham ido embora.
Sasuke olhou bem para sua filha, e seu enorme sorriso estampado no rosto, e sem perceber ele também sorria de volta — de leve. Em sua cabeça, a voz de sua esposa ecoou: Talvez ela não quer de você o mesmo que uma vez você quis do seu pai?
Quando ela disse aquilo para ele, ele sentiu novamente aquela sensação nostálgica que ele sentira antes, quando estava em frente a seu terreno vazio. Um garoto ainda nas fraldas, desesperadamente querendo a atenção e reconhecimento de seu pai. Tentando viver em suas expectativas para poder ouvir: esse é o meu garoto!
Lembrando-se de como ele se sentia naquela época, Sasuke queria dar para sua filha aquele presente.
“Essa é a minha—“.
Bom, ele tentou dar a ela esse presente. Mas ele hesitou. Acertar um alvo com uma shuriken parecia pequeno demais para uma frase tão poderosa. Deveria ter algo que ele poderia dizer no lugar. E ele poderia reservar aquelas palavras para quando ela conseguisse alcançar algo bem grande…
Sarada encarava-o com curiosidade, talvez por ele ter ficado em silêncio tão de repente. Mas um sorriso novamente dominou o rosto de sua garota, e ela aproveitou-se da situação para fazê-lo mimá-la um pouquinho, “Ahh, eu fico tão faminta depois de treinar. Talvez você possa me dar algum doce. Uma maçã do amor, talvez”.
O sorriso dela murchou um pouco quando viu a cara que o pai fazia para ela, “Você já está indo, não está?”.
“Uhum. Eu só passei por Konoha para deixar um relatório da minha missão. Eu não planejava ficar muito”.
“Não estava?”, ela parecia triste, “E quando você volta?”.
“Não sei”, ele respondeu, e sem protelar, deu meia volta — sua capa fazendo um barulho por conta do vento cortante. Ele podia sentir que Sarada queria lhe dizer algo, mas ele continuou a seguir em direção a floresta. Foi então que ele ouviu um som fraco de choro sendo segurado atrás dele, fazendo seus pés paralisarem no lugar.
Ele virou o corpo, vendo-a retirar os óculos rapidamente para coçar os olhos. Ele se aproximou novamente, fechando o espaço entre eles e logo, levantando sua única mão até sua testa — tocando-a com seu dedos.
Ela o encarou com os olhos firmes e rígidos, “Você vai tentar amenizar as coisas me dando um peteleco na testa de novo?”.
Sua mão congelou no lugar.
A ideia cruzou a mente dele sim, mas que negócio era aquele de ‘peteleco’?
Sua mão movimentou-se com delicadeza, tocando uma de suas sobrancelhas com o dedo.
“Isso não é um peteleco”, ele se agachou para ficar da mesma altura que a filha, “É o Estilo Fogo. Da próxima vez que eu vier para casa, eu vou te ensinar o Estilo Fogo”, Sasuke murmurou, olhando profundamente nos olhos da filha.
Ela parecia incerta sobre aquilo, mas quando viu um sorriso enorme no rosto do pai, ela só pôde sorrir de volta.
Intensamente.
____________________
Os Interlúdios de Shino
Pai Exigente
Trabalhar como professor, fazia com que as únicas pessoas com que ele tivesse mais contato fossem seus alunos — ou seja, crianças. Ele até que conversava com outros adultos, ocasionalmente. Ele tinha colegas, superiores, colegas de trabalho que vira e mexe apareciam na Academia Ninja. E…
“Mm”.
“Hmm”.
Enquanto Shino andava pela avenida principal de Konoha, ele notou uma certa pessoa andando em sua direção, e seus pés pararam. O outro homem também parara. Encarando um ao outro, as primeiras palavras que saíram de suas bocas foram “Mm”e “Hmm”.
Falar com adultos significava falar com colegas, superiores, colegas de trabalho, e…
“Sasuke Uchiha”.
…os pais de seus alunos.
Shino encarou Sasuke.
“Shino Aburame”.
Sempre que Sarada Uchiha precisava de um responsável durante sua estadia na Academia Ninja, era sempre sua mãe, Sakura quem estava presente. Desde que se tornara um professor na Academia Ninja, Shino nunca tivera a chance de falar com Sasuke Uchiha. Na verdade, nem mesmo quando ele ainda não era um professor, ele tivera essa chance.
Ele já havia conversado com Sasuke na época de Genin ou Chunin — ou mesmo na época da Academia Ninja? Analisando suas memórias, tudo o que ele podia se lembrar era de alguma troca de palavras quando Orochimaru atacou Konoha na frente de Kankuro, da Aldeia da Areia.
Shino olhou-o vagamente, perdido em seus devaneios, até que chegou a uma única conclusão.
Eu não faço a mínima ideia do que dizer para ele.
Sasuke parecia sentir a mesma coisa. Enquanto Shino encarava o céu, Sasuke encarava o chão.
“Então”, surpreendentemente, foi Sasuke a quebrar o silêncio, “Ouvi dizer que você foi professor da minha filha na Academia Ninja”.
“Oh. Sim, sim”, Shino endireitou-se, tomando posição de professor a frente de um pai de um de seus estudantes. Ele pigarreou, “O caminho que ela escolheu para si será bem árduo. Uma jornada bem dificultosa. Espero que esteja ao lado dela, como pai”.
“Como pai…”, um olhar pensativo domou as feições de Sasuke, como se ele já tivesse pensado sobre aquilo. “Então, talvez, eu deva perguntar algo a você, como pai”, ele trouxe a única mão para o queixo, “…insetos malignos?”.
“Como é?”, Shino não havia prestado a devida atenção. Ele se concentrou para entender a pergunta de Sasuke.
“Ela não foi alvo de nenhum perseguidor, nenhum inseto maligno?”.
Dessa vez, ele havia entendido. Sasuke fora alto e claro. Shino segurou a língua e olhou para o céu novamente, mas dessa vez ele não focava em lembrar-se de alguma memória. Não, ele precisava encarar a imensidão azul para tentar se acalmar — mas o imensidão azul estava um pouco escuro, devido a seus óculos desfocando as cores.
Shino visualizava a palavra paciência no céu. Mas somente uma vez não era o suficiente. Ele visualizou a palavra uma segunda, uma terceira vez. Paciência, paciência, paciência… ele começou até mesmo a duvidar de que as letras p-a-c-i-ê-n-c-i-a estavam sendo soletrada certa, então ele começou a visualizar a palavra em letra de mão.
Um ninja era alguém que tinha perseverança, que tinha paciência. Não havia nada que ele não pudesse resolver. Mas mesmo assim, seu corpo começou a chacoalhar.
“Não há—!”, sua voz estava descontrolada, “Não há nenhum inseto que seja maligno!!!!!”.
Um enxame de insetos devorou casualmente as palavras que Shino havia escrito acima de sua cabeça.