Sasuke Jinraiden: O dia do choro do lobo - Capítulo 6
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- Capítulo 6 - Manhã de memórias
Cinco dias depois, foi realizada uma comemoração para celebrar a vitória sobre Roen e rezar para que ele nunca mais atormentasse a aldeia.
Em meio a fogos de artifício e barracas, a rua principal ficou repleta de aldeões. Sem saber como Reishi havia morrido, os aldeões se divertiam visitando as pequenas lojas, bebendo álcool e brincando ao ar livre.
Como duas sombras, Kina e eu seguimos silenciosamente nosso caminho em meio ao burburinho da multidão e à música festiva que a acompanhava.
As pessoas pelas quais passávamos cumprimentavam Kina com um aceno de cabeça, davam-lhe tapinhas nas costas e lhe dirigiam palavras carinhosas. A cada vez, Kina respondia a elas com um sorriso vago.
Quando nos aproximamos da praça, nos vimos diante de uma enorme multidão.
No meio de todas aquelas pessoas, lá estava ele: Jiryu Sendo.
Com seu quimono desarrumado e os olhos bem abertos, ele contava às pessoas sobre os feitos heroicos de Kina Kodon, aquele que havia afugentado Roen.
“Fomos completamente enganados! Eu o vi com meus próprios olhos! Por gerações, esse monstro tem se escondido no clã Kodon! Mesmo no outro dia, muitos dos nossos foram massacrados, mas um deles, que conseguiu se salvar, me disse o nome do culpado: Reishi Kodon! Quando cheguei à Mansão Ipérico, os dois irmãos já tinham sido arrastados para fora e espancados. O mais velho fez um espetáculo vergonhoso. Ele estava se escondendo atrás do irmão o tempo todo! É uma pena que eu não possa lhe mostrar a cena!”.
Um dos espectadores zombou dele com um ar divertido: “Ei, Jiryu Sendo! Não era você quem passou vergonha, não?”.
“Ao ver o Roen, você se acovardou de medo, hein?”, continuou outro prontamente.
A multidão explodiu em gargalhadas estrondosas, contagiando até mesmo o Jiryu.
“E depois? O que aconteceu depois?”.
“Hum, onde eu estava?”.
“Ei! Fala sério! O irmão mais velho estava fazendo um espetáculo vergonhoso, tá, e depois?!”.
Jiryu bateu na testa com a palma da mão. “Ah, certo! O Reishi Kodon conseguiu enganar a todos nós. Mas eu vi com meus próprios olhos! Suas pupilas brilharam com uma luz vermelha e, de repente, bum! Com um barulho ensurdecedor, ele se mostrou em sua verdadeira forma!”.
Os espectadores ouviram com a respiração presa.
“O que vocês acham que ele fez em seguida? Ele começou a atacar os habitantes, a polícia e os guardas em massa! De suas costas brotaram inúmeros tentáculos capazes de sugar o chakra das pessoas! Qualquer um que tocasse ficava em pedacinhos! E então, com uma voz arrepiante, ele disse: ‘Não preciso mais do clã Kodon. Agora que sou mais velho, vou matar todos os aldeões!’ Não estou brincando, eu ouvi com meus próprios ouvidos! A partir daquele momento, o inferno começou. Subi em uma árvore, mas Roen estendeu uma pata em minha direção. Naquele instante, Kina Kodon veio como uma rajada de vento e me carregou para um lugar seguro!”, gritou
Jiryu, tagarelava aqui e ali.
“O confronto mortal entre os dois foi tão emocionante que não posso descrevê-lo para vocês! Quando Kina estava prestes a vencer expelindo fogo de sua boca, a fera tentou de todas as formas sugar seu chakra! Em uma alternância de ataque e defesa, a batalha continuou até o amanhecer. Finalmente, Kina Kodon, com aquela espada lendária que pertencia a Orochimaru, conseguiu atingir Roen! Reduzida a um espírito miserável e frágil, a criatura foi finalmente selada no Santuário Kodon!”.
Um rugido de aplausos e gritos surgiu da multidão de ouvintes.
Kina começou a desviar deles e eu o segui.
Deixamos passar um grupo de bêbados, passamos pela entrada barulhenta com os quiosques e saímos do grande portal da vila.
Ali também se concentravam várias barracas, e o riso despreocupado das pessoas chegava até nós de todos os lados.
Caminhamos pela rua de oitenta e oito torii e começamos a descer a montanha.
Foi nesse momento que Kina falou pela primeira vez após cinco dias de silêncio.
“Não me lembro de nada. Meu irmão foi espancado e, assim que percebi, eles me espancaram também. Fiquei furioso e depois perdi a consciência, certo?”.
“Sim.”
“Nesse meio tempo, Reishi se transformou em Roen?”.
”Sim”.
“Para onde estamos indo?”.
“Cala a boca. Apenas me siga”, respondi.
“É verdade que uma ameaça paira sobre a montanha do Choro do Lobo?”.
“Você escolhe se quer acreditar ou não”.
“No entanto, o fato de meu irmão ter sido possuído pelo monstro não me convence nem um pouco.”
“O relato de Jiryu Sendo se encaixa na verdade”, eu disse, depois de um longo silêncio.
“Sasuke?”.
“O clã Kodon era formado por grandes ninjas. Você não se lembra de nada porque seu pai deixou dentro de você a fórmula da técnica, que, com o aparecimento de Roen, seria ativada para proteger a aldeia”.
“Por que ele faria uma coisa dessas?”.
“Porque também há coisas que é melhor esquecer”.
Iluminados pela luz do sol que se filtrava por entre as árvores, um após o outro, passamos por baixo de todos os torii.
Eu estava preso às minhas próprias mentiras.
O momento em que Reishi morreu nos tentáculos de Roen ficou indelevelmente gravado em meus olhos.
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“Sasuke, cuide da Kina”, essas foram suas últimas palavras.
O som do vento, o gorgolejar do riacho, a sombra das nuvens, o barulho dos pássaros migratórios: a voz calma e orgulhosa de Reishi fazia parte de tudo isso e era um dos sons mais agradáveis do mundo.
“Graaawh!”.
O grito de agonia do monstro se elevou no ar. Roen uivou longamente, como se estivesse amaldiçoando os céus.
“Graaawh!”.
Ouvi um barulho semelhante ao produzido por uma borracha rasgada e fui lançado ao ar. Foi o suficiente para que eu percebesse que o efeito do genjutsu havia terminado.
Minha visão ficou embaçada devido ao sharingan, ao qual eu ainda não estava acostumado. Quando esfreguei os olhos com as mãos, percebi que eles estavam sangrando.
Em um mundo agora desprovido de cor, vi os tentáculos de Roen se erguerem de uma só vez sem fazer barulho.
Depois de perfurar o céu por um instante, como grandes ondas prateadas, elas engoliram Reishi.
Uma intensa oscilação se espalhou pelo chão, fazendo-o tremer, e um feixe de luz escapou das costas da criatura. Atravessando o céu noturno, o rastro de luz perfurou as nuvens carregadas de chuva.
“Mas que diabos foi isso?”.
Virei-me para a voz bastante peculiar e vi um homem na árvore ao lado.
“O monstro se acalmou de repente! Seu corpo está ficando transparente!”, gritou Jiryu Sendo.
Com minha última força restante, eu o alcancei com um salto.
“Wah! O que está fazendo? Pare com isso! Acha que é o momento certo para acertar as contas? O Roen está se transformando em algo estranho!”, murmurou Jiryu, que havia perdido toda a sua coragem.
“Cale a boca e olhe para os meus olhos”, eu disse, agarrando-o com força pelos ombros.
Embora uma dor lancinante me impedisse de mantê-los abertos, forcei-me a não fechar as pálpebras.
Assim como a lua naquele sonho negro, lágrimas de sangue vazaram do sharingan.
Minha visão ficou turva. Eu mal conseguia enxergar alguma coisa.
“Gwoooh!”.
Um genjutsu dominou o mundo e os olhos assustados de Jiryu Sendo, arregalando-se de repente.
Era um sinal de que a realidade, gradualmente derretendo como gelo, estava dando lugar à ilusão.
As portas da ilusão se abriram, sugando Jiryu Sendo para dentro.
“O que está acontecendo? Onde estou?”.
Correndo às cegas por uma floresta vermelho-sangue, ele parecia não ter ideia do que havia acontecido, onde estava, quem realmente era.
Afinal de contas, era impossível para ele saber.
Naquele mundo, as coisas se desenrolavam de acordo com meus pensamentos: assim como um caleidoscópio, o sharingan projetava minha consciência sobre a do inimigo. Cada consciência correspondia a um mundo, portanto, para cem pessoas, havia cem mundos diferentes.
Eu era o Deus daquele lugar, e o Deus era eu.
Até o tempo fluía de acordo com minha vontade.
Do alto do céu, observei Jiryu Sendo correndo sem rumo.
“Vou lhe mostrar uma nova realidade”, eu disse.
Meus olhos se transformaram em duas luas vermelhas, iluminando o céu noturno.
“Você contará a todos o que estou prestes a lhe mostrar.”
“Waaah! Socorro! Alguém me ajude!”.
“Você gostaria de tomar posse do Kotaro do Reishi, estou certo?”.
Assumi a forma de Kina e entrei na frente dele.
Jiryu Sendo caiu no chão com espanto. “Wah! Pirralho, de onde você veio?!”.
“Você está preso em uma ilusão da qual nunca acordará.”
“Nunca? Isso é impossível!”.
Concentrei minha força em meus olhos. “Você está errado. Eu só preciso quebrar esse seu cérebro insignificante. Vamos, olhe para mim”.
Durante as setenta e duas horas seguintes, atormentei Jiryu Sendo. Claro, me referindo ao tempo dentro da ilusão: na vida real, levei apenas alguns segundos.
Eu distraí completamente o cérebro do homem e transplantei para ele um milhão de vezes a realidade que eu queria lhe mostrar.
Eu estava tão exausto que, no final da ilusão, não conseguia me levantar.
Eu ainda precisava de algum tempo antes de poder usar habilmente o sharingan.
No mundo real, Jiryu Sendo caiu da árvore.
Era difícil até para mim respirar.
Não senti nenhum alívio pelo que havia conseguido fazer; pelo contrário, senti-me esmagado por uma enorme sensação de impotência, semelhante àquela sensação nostálgica que se tem ao final de uma batalha.
Roen estava desaparecendo pouco a pouco. Seu corpo foi ficando cada vez mais transparente, até que ele se tornou invisível aos meus olhos doloridos. Por fim, ele se transformou em uma nuvem de fumaça e voou em direção ao Santuário Kodon.
Essa cena foi a primeira lembrança gravada em meu sharingan.
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Sem que eu percebesse, a música que acompanhava a festa havia desaparecido de meus ouvidos.
Terminada a descida da montanha, passamos por baixo do último torii.
Caminhamos por um tempo na direção do mar, vermelho ao sol do crepúsculo.
Acima da balsa que me levou até lá, o barqueiro cochilava tranquilamente.
A brisa do mar soprava por entre os pinheiros.
Quando tentei chamar o barqueiro, Kina puxou a bainha de minhas vestes.
Em uma voz quase inaudível, ele disse: “Sasuke, eu não vou”.
Eu o ouvi em silêncio, com a impressão de que ele estava falando consigo mesmo.
“Essa história não me convenceu nem um pouco. Tenho a sensação de que estou com um grande buraco na cabeça e esqueci algo importante.”
Respondi-lhe com uma mentira: “Algo que você esquece não vale a pena ser lembrado.”
“No entanto, se considerarmos como verdade o que Jiryu nos disse, onde estaria a lendária espada de Orochimaru?”, ele retrucou.
“Depois que você a usou para golpear Roen, ela se transformou em fumaça e desapareceu no ar.”
“E outra, eu não consigo soltar fogo pela boca!”.
“Bem, esse tipo de narrativa é sempre um pouco cômica. Além disso, aquele cara está falando até demais. Ele deve ter se machucado ao presenciar uma cena tão assustadora.”
“É absurdo que eu tenha salvado alguém como Jiryu Sendo.”
“Mas você salvou. Ouça, Kina: Roen não está morto, em sete anos ele quebrará o selo e retornará para sua Aldeia. Não há ninguém capaz de selá-lo novamente.”
Kina olhou para mim com preocupação.
“Reishi confiou você a mim. Não vou deixá-lo sozinho na aldeia para ser morto por esse monstro”, eu disse.
“O que você vai fazer?”.
“Ainda não sei. Eu poderia treiná-lo até que você se tornasse forte o suficiente para se virar sozinho. Quando você for um ninja de verdade, poderá ir aonde quiser.”
Kina baixou os olhos e cerrou os dentes. “Vou voltar para a aldeia.”
“Não”.
“Não entendo por que, mas sinto que, se eu deixar a aldeia agora, acabaria esquecendo até mesmo meu irmão. Desde aquela noite, os aldeões têm me tratado com muita familiaridade”, sua voz tremeu, mas ele falou em um tom resoluto.
“Era isso que você queria.”
“Sim, mas não dessa forma. Além disso, não posso deixar meu irmão sozinho. Ele realmente adorava plantas e flores. Ficou muito feliz quando passou no exame para se tornar um herborista. Eu só queria ajudá-lo a preparar os remédios e ouvir suas piadas bizarras para sempre”, com as palavras presas na garganta, ele colocou sua máscara de falcão.
Em meu coração, perguntei a Itachi o que eu poderia fazer para ajudar Kina.
“Você vai morrer. Você acha que Reishi será capaz de perdoá-lo?”, eu disse.
“Provavelmente não.”
“Então…”.
Kina olhou para cima e disse: “No entanto, ele acabará perdoando. Talvez eu esteja errado e não encontre ninguém no mundo disposto a me entender: o perdão do meu irmão, no entanto, eu sempre o terei.”
Sempre terei o perdão de meu irmão.
Agora eu entendo.
“Quem é Itachi? Para a Folha, um bom espião, para o clã Uchiha, um traidor, para a Akatsuki, um peão dispensável. E então para você, Sasuke Uchiha…”
O garoto do sonho havia dito essas palavras para mim.
Quem era Itachi para mim?
Naquele momento, não tapei meus ouvidos, mas sussurrei para mim mesmo: “Itachi é meu único irmão”.
Por um instante, o mundo brilhou com uma luz deslumbrante, cheia de esperança, e perdeu todos os vestígios de escuridão.
“Sua preocupação me deixa muito feliz, Sasuke. Mas eu voltarei para a aldeia.”
Não consegui responder.
“É impossível que meu irmão tenha feito uma coisa dessas. Não sei como dizer isso, mas eu sinto isso aqui.”
Kina disse, batendo no peito várias vezes.
“Se Reishi estivesse aqui, ele teria dito uma de suas frases malucas.”
“Sim. Heh heh!”
“Não chore, seu cabeçudo.”
“Não estou chorando. Eu estou rindo!”.
“Você vai morrer.”
“!”.
“Se não quiser que isso aconteça, nesses próximos anos treine ao máximo e supere o Reishi.”
“Farei isso”.
“Se você não morrer, encherá o seu irmão de orgulho”.
Com os ombros trêmulos, Kina assentiu vigorosamente, segurando os soluços por baixo da máscara.
Levantei uma mão e dei um tapinha em sua testa.
“Não se preocupe: meu irmão também está lá e eu me juntarei a ele mais cedo ou mais tarde.”
Kina abaixou a cabeça.
Embora não houvesse sequer a sombra de uma flor ao nosso redor, um aroma de gardênias pairava no ar. Por mais forte que fosse o vento, ele nunca conseguiria dissipar aquele cheiro nostálgico.
Até mesmo nossa tristeza foi envolvida pela doce fragrância floral.
“Talvez você e eu ainda sejamos só pivetes.”
“Sasuke…”
“Mas, neste mundo, crescer é morrer. Siga o caminho em que você acredita.”
Com essas palavras, refiz meus passos.