Sasuke Jinraiden: O dia do choro do lobo - Capítulo 5

Jiryu Sendo foi quem quebrou o silêncio: “U—um monstro! É o Roen! Ele se levantou em duas pernas!”.

Começou uma rápida sucessão de gritos.

“Ele deve ter quinze metros de altura!”.

“Que diabos são aqueles tentáculos prateados em suas costas?”.

“Vejam! Um homem foi pego! Está drenando-o completamente!”.

“Os guardas! Alguém chame os guardas!”.

Roen levantou com uma pata e destruiu algo com um rugido enorme.

“Primeiro esquadrão, ativem os cilindros menores!”.

Os cilindros irromperam fogo, mas a fera nem pareceu notar, nem seu chakra sofreu a menor oscilação.

“Graaawh!”.

Pelo estouro desordenado dos cilindros, pude perceber que os policiais tinham sido levados pelo vento por aquele rugido violento.

“Waaah!”.

“Isso não vai adiantar! O cilindro menor é inútil!”.

Roen levantou o focinho em direção à lua e emitiu um longo uivo: parecia querer gritar para o mundo que o momento de sua vingança finalmente havia chegado.

Em agitação, a multidão gritou em desespero.

“Waaah! Se formos pegos, esses tentáculos nos transformarão em pedacinhos!”.

“Fujam!!!”.

A fera deu um passo à frente, fazendo o chão tremer.

“Não! Não se aproxime mais!”.

O pequeno chakra das pessoas desapareceu, enquanto o chakra da criatura ficou cada vez mais poderoso.

“Eu não quero morrer!”.

A princípio, pensei que a fera estava perseguindo a multidão, mas, observando a cena  através de uma árvore na colina, percebi que estava errado: ela estava indo em direção ás luzes da vila.

“Você quer chegar ao centro do vilarejo?”, indaguei-me.

Enquanto devorava todos que passavam por ele, Roen caminhava lentamente, ávido por chakra.

Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas dei um salto confiando apenas em minha audição. Dez minutos, era só o que eu conseguia pensar: se em dez minutos não resolvêssemos aquilo, Kina seria morto!

Eu concentrei chakra em minhas mãos, “Reishi! Vou deixar essa fera inconsciente! Atinja seu ponto fraco!”.

Antes que minha voz desaparecesse no ar, Reishi já estava ao meu lado: “Sasuke, Roen está às duas horas!”.

Enquanto o Chidori crescia em minha mão, eu me aproximei do meu alvo. Preparei meu braço e mirei no focinho de Roen.

Naquele momento, porém, Reishi me empurrou com força.

Entendi imediatamente o motivo: várias kunai estavam vindo em minha direção.

“Droga! Quem fez isso?”, gritei, depois que elas passaram a poucos centímetros do meu rosto.

O chidori em minha mão se dissolveu com um estalo e desapareceu sem deixar rastros.

Aterrissamos no telhado da Mansão Ipérico e, em um instante, nos vimos cercados por várias sombras.

“Sendo…”

Uma risada maliciosa dispersou as palavras de Reishi.

“He he he! Eu nunca teria adivinhado que Kina era o Roen!”.

“Você está errado! Quando Kina perde o controle da raiva, o selo não pode mais conter Roen!”, gritou Reishi.

Jiryu Sendo riu de forma zombeteira. “Quando Kina perde o controle por causa da raiva? Está querendo dizer que o Roen escapou por minha causa? Bem, se esse for o caso, aquele monstro terá que me agradecer! Porque fui eu quem incitou os aldeões a espalhar o boato de que a Kina era o culpado pelos assassinatos!”.

“Heh heh!”, riu as pessoas atrás de si.

“Não há mais tempo! Por favor, eu farei qualquer coisa! Se não selarmos Roen no santuário logo, Kina morrerá!”, implorou Reishi a eles, à beira das lágrimas.

“Qualquer coisa? Então me dê a receita do Kotaro”, disse Jiryu.

“O Kotaro só pode ser produzido dentro do meu corpo”.

“Ei! Você disse que não há tempo, certo? É melhor fazer o que o chefe mandou agora!”, um dos subordinados o ameaçou.

“Reishi, vá atrás do Roen”, eu disse.

“Sasuke!”.

“Deixa isso comigo, já o alcanço.”

“Mas seus olhos…”.

Eu me virei para os inimigos e os encarei com um olhar duro. “Não se preocupe. Um pouco de aquecimento é exatamente o que eu preciso. Agora vá!”.

“Muito bem, Sasuke! Deixo tudo em suas mãos!”.

Assim que ele saltou no ar, alguns membros do clã se lançaram sobre ele.

“Estilo Fogo: Técnica do Dragão de Fogo!”

Criei uma cortina de fogo entre Reishi e os inimigos.

“Seu bastardo! Estou observando você desde antes e parece que você não consegue nos ver!”, rugiu Jiryu Sendo.

Concentrei meus nervos em meus ouvidos, desenvolvendo mais audição. Quando os homens se moviam, eu percebia o fluxo de seu fraco chakra: haviam cinco à minha direita, quatro à minha esquerda e mais dois na árvore do jardim. Incluindo Jiryu Sendo, eram doze no total.

Embora meus olhos não pudessem ver, eu podia prever seus movimentos como se pudesse tocá-los com minhas mãos.

“No Mausoléu do Monte Espinhoso, fomos imprudentes, mas agora temos você! Seu fim está marcado!”, com essas palavras do líder, o chakra dos homens se expandiu violentamente.

Ouvi o som de algo cortando o ar: o segundo homem à esquerda estava girando uma kusarigama.

“Ei, você! Esse cara não pode ver! Cuidado com som—”

Abri os braços lançando três kunai. Jiryu foi salvo por um fio, mas os dois homens na árvore caíram no chão, um após o outro.

“Chega de conversa. Vou acabar com todos em dez segundos”, eu disse, apontando meu dedo para eles.

“Por que ainda não o pegaram? Vamos, matem-o!”.

Com a ordem dada, um deles se atirou contra mim.

Em uma situação como essa, eu não podia desperdiçar chakra, então decidi lutar contra ele apenas com taijutsu. Evitei o ataque e o acertei com um soco na boca do estômago.

“Gwah!”, gemeu o homem, antes de cair no chão.

Curvando meu corpo, consegui me esquivar da kusarigama de outro oponente e, depois de dar dois giros para o lado, dei um chute direto no queixo do homem. Depois disso, desviei de várias kunai, mandando-as pelas laterais do meu rosto, por baixo dos meus braços e entre as minhas pernas.

“Que diabos vocês estão fazendo!? Eu já disse que ele não pode ver, não disse?”, gritou Jiryu Sendo.

Foi o suficiente para eu detectar a localização de sua voz.

Como uma coruja na noite, os olhos de minha mente viram tudo claramente.

A lâmina de uma espada brilhava em minha cabeça. Consegui evitar os golpes e chutei a barriga de um de seus capangas. Ao ser arrastado para longe, o homem perdeu sua espada. Prontamente peguei a arma e a coloquei debaixo da axila para golpear meu oponente por trás, que caiu no chão com um gemido de dor.

Sem parar, saquei minhas kunai e, com três em cada mão, joguei-as em todas as direções. Os inimigos gritaram e seus chakras começaram a enfraquecer: percebi que eu tinha os acertado.

Restavam no máximo dois deles, mas não pareciam ter intenção de atacar. Então, ambos  soltaram um grito estranho e assustado e fugiram.

Eu não podia ficar mais tempo. Cheirei o vento, estiquei as orelhas e me lancei em busca de Roen.

Pulei sobre galhos de árvores e telhados de casas, seguindo em direção daquele chakra maligno.

“Reishi! Onde você está?”.

A resposta foi imediata: “Estou aqui, Sasuke! Em uma árvore às dez horas!”.

Dei um salto naquela direção e aterrissei no local onde Reishi estava.

“Quantos minutos já se passaram?”, perguntei a ele.

“Acho que cinco.”

“Então, faltam mais cinco. Como vamos proceder?”.

“É fazer ou morrer. Vou tentar a hipnose. A Comunicação Espiritual do Tigre e do Lobo!”.

Com essas palavras, ele se lançou em direção a Roen.

A cor da minha visão mudou de branco para roxo claro.

Um doce aroma de gardênias nos envolveu, aumentando gradualmente de intensidade.

Pelo fluxo de seu chakra, pude perceber que Roen havia parado: sua aura ameaçadora havia diminuído drasticamente.

“Sasuke, não respire! Se o Kotaro for absorvido pelo seu corpo, ele o deixará inconsciente!”.

Fiz o que me foi pedido.

“Estou indo salvá-lo, Kina!”, gritou Reishi.

Alguns aldeões começaram a gritar em pânico.

“O que é essa fumaça roxa? As pessoas estão desmaiando!”.

“Ei! Não respire essa coisa ou você vai desmaiar!”.

Roen parou de andar e cambaleou: parecia que seus tentáculos tinham caído e seu chakra estava perdendo força.

“Ele está sob o efeito da hipnose”.

Reishi, que por um momento havia desaparecido envolto da fumaça, pulou uma parede e se jogou nas costas de Roen. Ele posicionou seus dedos na marca e rapidamente recitou  o selamento.

“Roen Kodon!”.

No entanto, ele não conseguiu atingir o ponto fraco da criatura.

Tendo recuperado parte do chakra, Roen conseguiu mover sua cauda e atingir Reishi.

“Gwah!”.

Eu imediatamente pulei no ar, agarrei o corpo de Reishi e nós dois acabamos contra uma grande árvore.

“Eu lhe disse que era impossível sozinho! O efeito da arte ilusória da hipnose vai passar antes que você possa prosseguir com o selamento!”, gritei.

Reishi estava prestes a me responder algo, mas foi interrompido pelo som de um canhão.

Nós dois nos viramos.

“O que está acontecendo?!”.

Foi Jiryu Sendo quem respondeu à minha pergunta: “Ha ha ha! Os guardas chegaram!”

Sem que eu percebesse, ele havia subido em uma árvore bem ao lado.

“Ha ha ha! Vamos lá, derrubem esse monstro com os cilindros grandes! He heh heh! Ah ah ah!”!

“Graaawh!”, o rugido de Roen fez a noite tremer.

“Parem com isso! Isso vai ficar completamente fora de controle!”.

O rugido dos cilindros, no entanto, não parecia dar a entender que iria parar e, como se não bastasse, um tiro que errou o alvo quebrou em pedaços a árvore em que estávamos.

Agarrei o corpo do Reishi enquanto ele voava pelo ar junto com os pedaços de madeira. “Reishi, você está bem?!”.

Como se estivesse possuído por sabe-se lá o quê, Reishi se transformou: “Pare com isso! Você não deve usar o cilindro maior! Você se esqueceu do que aconteceu há dez anos? Eu posso controlar o Roen! Parem com isso! Pare!”.

Percebi uma sensação de inquietação em meus olhos.

“Pare com isso!”.

Com um olhar sangrento, Reishi levantou as mãos e disse: “Comunicação Espiritual do Tigre e do Lobo!”.

“Seu idiota, acalme-se! Você está muito longe!”.

Em um piscar de olhos, uma fumaça roxa escura envolveu tudo. Prendendo a respiração, dei um salto e mergulhei na névoa espessa.

A fumaça me envolveu e se fechou ameaçadoramente atrás de mim.

Rapidamente movimentei minhas mãos, abri uma brecha e liberei meu chakra para cima.

“Estilo Fogo: Técnica do Dragão de Fogo!”.

A energia que foi produzida assumiu a forma de um dragão e atravessou o céu.

As nuvens de tempestade se juntaram e descarregaram energia elétrica, liberando um trovão violento.

Foi então que Reishi voltou a si.

“Ei—o que você vai fazer, Sasuke?”.

“Não me faça dizer isso centenas de vezes! Eu quero deixar esse monstro inconsciente!”.

O vento aumentou, trazendo a chuva com ele.

Senti a energia das nuvens eletricamente carregadas em minha mão.

Roen, atraído pelos cilindros maiores, caminhou lentamente em direção aos guardas.

“Eu o derrubarei com certeza!”.

Naquele momento, porém, algo alterou meus cinco sentidos.

Os tiros, lançados sem parar, explodiam com um som enorme sempre que atingiam um objeto. Os estrondos das deflagrações ecoavam em meus ouvidos.

Por causa da comoção, comecei a ter problemas de audição e de visão.

“Não consigo identificar sua localização exata! Você me guia!”, gritei.

Reishi respondeu imediatamente: “À sua direita, às três horas. São cerca de cinquenta metros”.

Concentrei meus nervos no local que me foi apontado e, seguindo meus sentidos, me posicionei: duas horas e meia, quarenta e nove metros.

A chuva estava ficando mais forte e os relâmpagos brilhavam no céu noturno.

Toda vez que um tiro o atingia, Roen ficava furioso e se enfurecia, mas estava longe de ser dominado. Ele avançou sem hesitar até ter os guardas ao seu alcance. Totalmente derrotados, os homens gritaram em pânico.

“Oh, não! O cilindro maior é inútil!”.

“Vamos correr!”.

“Graaawh!”, os tentáculos de Roen se esticaram na direção dos guardas em fuga.

Os tiros aleatórios disparados dos cilindros produziam um barulho ensurdecedor. Mesmo assim, eu tinha certeza de que conseguiria executar a técnica perfeitamente.

O chakra de Roen estava cada vez mais poderoso e cruel.

Conectado a mim, o trovão no céu rugia como um dragão à medida que a voltagem aumentava.

Apontei para o focinho de Roen. “Não levante sua cabeça, monstro! Kirin!”.

Minha técnica e um projétil do cilindro maior foram lançados ao mesmo tempo.

“Droga!”.

O mundo ao meu redor ficou tão branco que eu não conseguia distinguir nada.

Uma explosão violenta sacudiu o chão: o solo balançou, pedras se estilhaçaram e o cheiro de árvores carbonizadas encheram o ar.

Reishi e eu pulamos na direção da fera.

“Será que acertei?!”.

Na chuva torrencial, mantive meus olhos na poeira que cercava Roen. Em meus ouvidos, o rugido da explosão continuava a soar como um sino.

“O que está errado, Reishi? Será que acertei?”.

Não foi preciso responder.

Um tentáculo atravessando pelo ar me pegou.

“Droga! Ele se esquivou!”.

Saquei minha kusanagi e cortei com um único golpe o que estava me envolvendo.

As costas da criatura, no entanto, se torceram sinuosamente e produziram outra.

“Tsk!”.

No momento em que eu estava distraído observando aquela cena, a fera usou sua cauda para me pegar novamente.

“Não! Gwah!”, gritei, enquanto era jogado no chão.

“Sasuke!”.

Na borda do meu campo de visão, vi a silhueta de Reishi aparecer.

Ainda me segurando pela cauda, Roen me jogou entre suas presas: quando aquelas mandíbulas afiadas se fecharam para me cortar ao meio, vários corvos negros foram soltos no ar.

“Fique calmo. Estou aqui”, eu disse a Reishi, colocando a mão em seu ombro.

“S-Sasuke! Você está bem?”.

Ele parecia não entender nada do que estava acontecendo.

“Eu não diria isso. Ele drenou muito do meu chakra”, respondi, ajoelhando-me no chão.

“O que tiver sido atingido pelo tentáculo começará a secar imediatamente. Tome isso, deve ajudá-lo a se sentir melhor”, disse Reishi, tirando um comprimido do bolso.

Tomei o remédio: a dor passou rapidamente e senti o chakra restante se concentrar nas feridas abertas.

“As partes feridas recuperaram a força.”

Ao fazer isso, no entanto, eu havia perdido ainda mais chakra.

Com os tentáculos ainda saindo de suas costas, Roen voltou para o centro da aldeia.

“Droga! Se ao menos aquela pedra não tivesse ficado no caminho…”, Mais uma vez o mundo nos enganou, apenas para nos decepcionar no momento seguinte.

“Quanto tempo nos resta?”, perguntou Reishi.

“Dois ou três minutos.”

A raiva cresceu implacável dentro de mim.

Meu olhar ficou inquieto e minhas pupilas começaram a tremer de raiva.

Como um tubarão, a sensação de impotência estava me devorando por dentro.

“Sasuke…”.

Reishi me olhava perplexo.

Foi nesse momento que me vi refletido em seus olhos.

Eu podia distinguir claramente minhas pupilas vermelhas: eu havia recuperado minha visão.

“Sasuke, seus olhos.”

Senti as forças despertarem naquele corpo, não mais drenadas, mas sulcadas por uma torrente de chakra.

Reishi tentou colocar a mão em meu ombro, mas foi repelido por uma sacudida. O chakra transbordou, dançando e crepitando em todas as partes do meu corpo.

Senti a presença de Itachi ao meu lado. Eu não estava lutando sozinho: não importava quantos inimigos o mundo tivesse reservado para mim, eu nunca estaria sozinho.

Ao pensar nisso, senti-me orgulhoso.

Havia algo mais importante e significativo?

“Irmão, esses olhos pertencem a mim”, murmurei.

Não sabia se essas palavras tinham chegado ou não ao ouvido de Reishi.

“Do que você está falando?!”.

Roen correspondia exatamente à descrição que o barqueiro havia me dado: ele tinha a cabeça de um lobo, o corpo de um tigre e, de sua boca dilacerada até as orelhas, brotavam dentes afiados como espadas. Os tentáculos em suas costas pareciam anêmonas-do-mar prateadas.

“Vamos selá-lo”, eu disse, olhando para as costas da fera com o recém-despertado sharingan.

________________

Partimos em busca de Roen em meio à forte chuva.

Reishi segurava uma kunai com as duas mãos.

“Você acha que isso aí servirá para alguma coisa?”, perguntei a ele.

“Isso aqui está encharcado de veneno. Um arranhão mataria um elefante”.

Chegamos perto do nosso alvo, saltamos de uma grande árvore e aterrissamos simultaneamente em cada lado da fera.

Reishi, da direita, atirou sua kunai mirando nos olhos, mas Roen conseguiu desviá-las com seus tentáculos.

“Droga!”.

Aproveitei esse momento para atacá-lo pelo lado oposto. Concentrei o Chidori em minha mão direita e coloquei a esquerda em posição.

Como um gato eriçando o pelo, Roen espalhou seus tentáculos em todas as direções. Rasgando o ar como um chicote, causando uma corrente de luz prateada e se lançando contra mim.

Inspirei profundamente, fiz um movimento circular com o polegar e levei o dedo indicador da minha mão direita à boca.

“Estilo Fogo: Técnica do Dragão de Fogo!”

Os tentáculos da fera foram rapidamente envolvidos pelas chamas.

“Graaawh!”, rugiu Roen, contorcendo-se de dor com as costas em chamas.

“Sasuke! Um tentáculo à uma hora de sua mão direita!”.

Reishi gritou para mim.

“Poupe seu fôlego! Estou enxergando bem agora!”, com um giro do meu tronco, dei um salto sobre um dos tentáculos em chamas e voei em direção à cabeça da fera.

O céu e a terra se inverteram.

Vi o rosto preocupado de Reishi, seus olhos em mim.

Por um décimo de segundo, permaneci no ar e depois mergulhei.

Com minha mão direita para trás, apontei para o topo do crânio de Roen.

Vários tentáculos me seguiram como cobras famintas.

“Venha me pegar!!”, gritei.

Arqueando as costas e inclinando a cabeça, consegui evitar todos eles.

“Chidori!!”.

Os gritos do monstro se perderam no rugido da explosão.

Ótimo!

“Woooh!”.

Imobilizei a cabeça de Roen com toda a minha força e a arremessei contra o chão.

A terra balançou e as rochas foram varridas para o ar em uma nuvem de poeira.

O monstro havia caído no chão.

Reishi prontamente jogou as kunai, correndo em meio à poeira espessa.

“Vamos lá! Faça com que ele se acalme!”, ele gritou.

Roen, no entanto, repeliu o ataque.

As kunai ricochetearam a toda velocidade sobre Reishi, que, estando no ar, não teria tido tempo de evitá-la.

“Técnica Shuriken das Sombras!”

Antes que elas pudessem atingir seu corpo, usei a técnica para desviar todas as kunai. Incrustadas nas árvores ao redor, elas tingiram as folhas de marrom, fazendo-as secar em um piscar de olhos.

Reishi se endireitou e aterrissou ao meu lado. Sua respiração estava difícil e ele tremia violentamente.

Mantivemos nosso olhar fixo em Roen, que se levantou lentamente em meio à poeira.

“Temos muito pouco tempo. O que devemos fazer?”.

“Mantenha-o imóvel! Só preciso de um segundo”, eu disse.

Reishi respondeu, gaguejando: “Mas não há mais Kotaro em meu corpo. A Comunicação Espiritual do Tigre e do Lobo…”.

Eu o agarrei pelo colarinho: “Pare de reclamar! Ou você faz isso agora ou perderá Kina! Não há alternativas!”

“!”.

“Não dou a mínima para suas razões! Congele esse monstro por três segundos para que eu possa usar meu genjutsu!”.

Como eu poderia usar o recém-despertado sharingan? Eu não fazia ideia. Mas tinha plena confiança em mim mesmo.

“Vou deter esse monstro a todo custo. Depois disso, você o atingirá em seu ponto fraco para selá-lo”, eu disse. Com o sharingan, segui as costas de Roen, que havia começado a se movimentar novamente.

“Tudo bem.”

“Depois disso, você irá resgatar Kina.”

“Sim.”

“No entanto, você morrerá. No momento em que você selar o Roen, o chakra dele se libertará. Meu genjutsu será dissolvido e os tentáculos daquele monstro o matarão.”

“Estou pronto.”

“Eu sabia que você diria isso.”

“Sasuke?”.

“O quê?”.

“Kina sabe onde coloquei a receita do colírio, mostre-a a outro fitoterapeuta e ele a fará para você”.

“Como você pode não pensar em si mesmo em um momento como este?”.

Reishi falou comigo como se estivéssemos conversando sobre o tempo.

“Diga a Kina que fui eu quem matou aquelas pessoas. Desta vez, porém, será verdade! Ha ha ha!”.

Ele estava brincando?

Fiquei surpreso com aquela atitude, tão forte quanto graciosa.

Envolvidos em uma luz verde melancólica, trocamos um olhar e acenamos com a cabeça com um ar relaxado.

A figura de trás de Roen se afastou lentamente.

“Você está pronto? Vamos resolver isso em trinta segundos!”, disse eu sem me virar.

Reishi apertou o passo e se lançou contra a criatura. Quando a alcançou, ele deu um grande salto, mas foi imediatamente atacado pelos tentáculos. Ele não parecia nem um pouco decidido a escapar.

“O que está fazendo?! Saia, Reishi!”, gritei.

Reishi, no entanto, se entregou aos tentáculos. Se ele realmente quisesse escapar, teria conseguido de alguma forma.

Não havia tempo para pensar.

“Técnica Shuriken das Sombras!”

A enorme shuriken cortou a raiz do tentáculo que o aprisionava.

Eu vi Reishi despencar, mas ele não parecia estar morto.

Tal coisa não poderia matá-lo!

Se meus olhos não me enganassem, um sorriso satisfeito apareceu em sua boca por um momento. Depois disso, ele tirou algo do bolso do peito e jogou no focinho de Roen, cobrindo-o com uma cortina de fumaça.

“Reishi!”, gritei.

Roen sacudiu a cabeça para se livrar da fumaça que a envolvia, e como se não fosse nada, ele voltou a andar.

“O que está fazendo?!”, disse rangendo os dentes.

O tempo passou inexoravelmente. Restavam apenas vinte segundos. Não havia tempo para brincadeiras.

“Chidori!”.

Acompanhados por um estalo alto, os raios do Chidori foram para o extremo sul, atingindo o segundo grupo de guardas, ainda em posse do cilindro maior.

“E com isso, saia do caminho”.

Atingidos pelo choque elétrico, os homens caíram no chão um após o outro.

Quinze segundos.

Roen parou de repente. Agitando violentamente as patas dianteiras, ele tentou afastar as inúmeras luzes verdes reunidas em torno de seu focinho. Dos arbustos, dos jardins das casas, das copas das árvores, do leito do rio, os vaga-lumes do xogum subiram silenciosamente no ar e, como um riacho, se derramaram sobre a criatura, envolvendo completamente seu corpo.

Dez segundos.

“Ótimo! Bom trabalho, Reishi”.

Percebi que a substância derramada pouco antes sobre Roen nada mais era do que o pó criado especialmente para Kina.

Nove segundos.

Não importava o quanto Roen tentasse afugentar os insetos, ele não conseguia de forma alguma afastá-los.

“Levante-se, Reishi! Não é hora de dormir!”, eu o repreendi severamente.

Oito segundos.

Passei pela criatura, saquei minha espada e pulei em sua cabeça. Com o susto, os vaga-lumes se espalharam confusamente no ar.

À medida que a luz verde me envolvia, senti a presença de Reishi por perto: em cada inseto habitava seu profundo amor pelo irmão.

Sete segundos.

Enfiei minha espada na mandíbula superior de Roen e, segurando-a com as duas mãos, perfurei a mandíbula por baixo em um só golpe.

Com sua boca fechada dessa forma, a fera emitiu um grito sofocado, enquanto o sangue jorrava de sua ferida.

Seis segundos.

“Maldito monstro!”.

Além da luz verde, distingui perfeitamente dois olhos vermelhos bem abertos.

Naquele instante, entendi tudo sobre o sharingan: senti-me como um peixinho recém-nascido, que já sabia nadar sem ser ensinado.

Cinco segundos.

Senti meus olhos pulsando profundamente: “Prepare-se! Estou prestes a entrar em sua cabeça!”.

Quatro segundos.

Os vaga-lumes se espalharam ainda mais no ar.

O som de sinos ecoou ao longe: como se marcasse o início do meu genjutsu.

Três segundos.

O céu ficou vermelho e a terra negra. Para todas as criações do mundo, o tempo parou. A luz desapareceu dos olhos de Roen.

Dois segundos.

Inúmeros corvos cobriram o céu e, quando me dei conta, eu estava naquele lago.

________________

Abri os olhos: estava no meio de uma floresta escura, cercada por uma espessa névoa noturna. Apesar da escuridão profunda, eu podia ver tudo nitidamente.

Uma lua vermelha, derramando lágrimas de sangue, brilhava no alto do céu.

Senti a presença de criaturas misteriosas por toda parte.

Entrei no coração da floresta e, depois de algum tempo, encontrei um monumento de pedra que eu já conhecia: era o mesmo Santuário Kodon, aquele com a palavra

“veneração”, o lobo e o tigre esculpidos nele. Dessa vez, porém, além de estar intacta, a escultura exalava um chakra terrivelmente obscuro.

Nas costas do lobo estava gravada a palavra “selo”, enquanto o símbolo no tigre, que no Santuário Kodon parecia indecifrável para mim, agora estava perfeitamente legível a palavra: “sete”.

“É o mesmo número que estava no pedido de Itachi. Não pode ser uma coincidência. Pare de se esconder. Que tal vir para o campo aberto?”, eu disse.

O garoto com a máscara de falcão deu um passo à frente.

“O que significa o número sete?”.

“Por que eu deveria lhe dizer?”

“Porque você é eu, você é Itachi, você é a única testemunha que observou com precisão a grandeza e a decadência do clã Uchiha. Você se esqueceu?”.

O garoto permaneceu imóvel, sem dizer uma palavra.

“Além disso, vocês também são Kina e Reishi. Estou certo?”.

“Se Reishi selar Roen no santuário, Kina será libertado”.

“Isso eu sei. O próprio Reishi me falou sobre isso”.

“Todavia, o selo não será eficaz no santuário. A cada sete anos é necessário repetir o selamento”.

“!”.

“Nesta aldeia, essa tarefa cabe ao clã Kodon. Se depois de sete anos a criatura não for selada, ela se manifestará novamente, semeando destruição. A mesma coisa aconteceu no passado.”

No coração da floresta, algo começou a se agitar, ficando cada vez mais intenso até que o céu noturno tremeu. Percebi que este mundo estava prestes a se fechar.

“Eu não me importo”.

“Você não se importa?”.

“Eu só quero salvar Kina. Isso é tudo”, eu disse.

O garoto caiu na gargalhada e deu de ombros: “Típico de você, Sasuke Uchiha”.

“Você pode me provocar o quanto quiser, mas não vai adiantar nada.”

“…”.

“Meu coração já se decidiu”.

Acompanhado pelo estrondo de um trovão, um raio caiu perto de nós e partiu uma árvore enorme ao meio.

Olhei para o céu escuro como breu e vi vários relâmpagos violetas cruzando em todas as direções.

“Estamos ficando sem tempo. O Reishi começou a selar o Roen”, disse ele.

O tempo não tinha significado neste mundo.

“Qual é o seu objetivo, se você não vai salvar Reishi e Kina, o que você vai fazer?”.

“Eu sabia que era impossível, mas queria fazer algo para salvar esses irmãos”, respondi o garoto, abaixando o olhar.

“Hipócrita.”

“…”.

“Então, não tenho nenhum direito de criticar. Vocês mataram por mim, certo?”.

Não tinha uma resposta para àquilo.

“Quando só podemos proteger uma coisa, seja ela qual for, o arrependimento nos assombrará por toda a vida. Temos apenas que tentar aceitá-lo, da melhor forma possível”, finalmente disse.

“Está me dizendo que está pronto para conviver com o remorso? Eu já lhe perguntei. Qual é sua natureza? O que o verdadeiro você fará de agora em diante? Esse é, então, seu verdadeiro ser?”.

Olhei fixamente para aquele moleque de olhos vermelhos. “Se o mundo inteiro não aceitasse esses dois irmãos, eu o faria de qualquer maneira. Reishi e Kina são como eu: sua existência mútua é a coisa mais importante que existe. Não sei se posso me considerar pronto dessa forma, mas essa é minha verdadeira natureza”.

“Você vai destruir a Folha a todo custo”.

“Sim”.

“Você está disposto até mesmo a cortar todos os laços, como fez quando abandonou a aldeia”.

“Esse vínculo não existe mais”.

“E Kina e Reishi?”.

“Não há lugar para mim entre os dois. E é por isso que eu quero salvá-los: para o meu próprio bem.”

“Itachi não queria que você ficasse contra a Folha.”

“Eu sei. No entanto, se ele não quisesse, não soube me demonstrar isso também”.

“Isso o quê?”.

“O fato de que Itachi vive dentro de mim, que ele continua a existir em meu coração.”

O garoto caiu na gargalhada. “Você parece ter resolvido o enigma deste mundo”.

Prendi a respiração por um momento, depois disse: “Este mundo consiste nas memórias de Itachi impressas no sharingan. Ele provavelmente olhou para o coração de Kina”.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto.

“E você é Itachi Uchiha, meu irmão.”

O garoto havia desaparecido: agora, diante de meus olhos, estava ele, Itachi, e me pareceu que aquele sempre fora ele.

O manto da Akatsuki esvoaçava com o vento.

“Itachi…”.

“Mesmo que corte todos os laços, permanecerei aqui por toda a eternidade”, sua voz me pareceu como uma brisa fraca.

Levantei minha mão lentamente, até que a coloquei sobre a máscara. Vi primeiro sua mandíbula e depois seus lábios: seu rosto estava começando a se mostrar um pouco de cada vez.

No entanto, de repente, o tempo se esgotou.

O campo magnético que constituía aquele mundo começou a se deformar.

Como uma ampulheta quebrada, a floresta disparou, liberando inúmeros corvos no céu.

Percebi que, no mundo real, Reishi havia selado Roen.

“Itachi!”.

Caí de cabeça no buraco que se abriu de repente sob meus pés.

Enquanto eu afundava na escuridão sem fundo, pude ver por um momento: a boca de Itachi estava se movendo, sem produzir nenhum som.

“Mesmo que corte todos os laços…”

As lágrimas caíram como chuva, da terra para o céu.

Foi assim que passei pelo sonho negro e saí dele. “…permanecerei aqui por toda a eternidade.”

Aquela voz impossível de ouvir sempre soou em meus ouvidos.